segunda-feira, novembro 25, 2024

Nova uva brasileira conquista mercado inglês

Nova uva brasileira conquista mercado inglês

Uma novidade lançada em 2012 no Brasil já ganhou os paladares do mundo. Uma uva preta, com sabor especial, bom equilíbrio entre açúcar e acidez e sem sementes está fazendo sucesso na Europa e conquistou o exigente mercado britânico. A BRS Vitória é a primeira cultivar brasileira de uva sem sementes tolerante ao míldio, principal doença fúngica que ataca as videiras no país. A resistência permite a redução das aplicações de agroquímicos no parreiral.

A nova cultivar, desenvolvida especialmente para as condições climáticas do Brasil, é recomendada para regiões de clima tropical úmido, como no Sudeste, e tropical semiárido. Por aqui, a produção desse tipo de uva tem se destacado nos municípios de Petrolitana (PE) e Juazeiro (BA). Com planejamento da época da colheita, os produtores trabalham com duas safras anuais e conseguem programar a produção para que coincida com as janelas de mercado de outros países exportadores para a Europa com preços mais vantajosos. No Brasil, a cultivar já chegou às principais redes de supermercados de grandes cidades do país

De acordo com o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, João Dimas Garcia Maia, um dos coordenadores do Programa de Melhoramento Genético, com irrigação e uso de produtos para promover brotações, é possível escalonar podas durante o ano todo e proporcionar as colheitas para o melhor período do mercado. “Nas condições tropicais, a diminuição na duração do ciclo possibilita deixar as plantas em repouso por cerca de 30 a 40 dias entre os sucessivos ciclos além de aumentar o acúmulo de açúcares durante a maturação resultando em uvas mais doces,” conta Maia.

O sabor diferenciado da nova uva trouxe uma importante vantagem competitiva à balança comercial brasileira já que possibilita exportações de uva entre abril e dezembro para boa parte do mercado britânico. Além disso, a tolerância ao míldio também resultou em vantagens econômicas e ambientais. Segundo Maia, essa é uma característica que está sendo priorizada no desenvolvimento de novas cultivares de uva. “Ser tolerante possibilita uma produção mais sustentável, pois se pode reduzir cerca de 20%as aplicações de fungicidas, trazendo benefícios aos viticultores, ao meio ambiente e também aos consumidores”, enumera.

De acordo com a pesquisadora e coordenadora do Programa, Patrícia Ritschel, a BRS Vitória já foi aprovada para o plantio nas principais regiões produtoras de clima tropical e subtropical como São Paulo, Paraná, Minas Gerais além do próprio Vale do Submédio do São Francisco . Segundo Patrícia, a equipe está trabalhando no sistema de manejo para que produtores da região Sul também possam começar a produzir. “Estamos ajustando algumas questões de controle de produção e época de colheita, mas acreditamos que em regiões de clima mais úmido como no norte do Paraná ou no Rio Grande do Sul, o ideal será a utilização do cultivo protegido, para evitar problemas como a podridão-da-uva-madura”, detalha.

Os cuidados no manejo dessas cultivares no campo, definição do ponto ideal de colheita, sistema de embalagens, classificação e resfriamento pós-colheita, associado a uma boa rede de distribuição tem posicionado bem as cultivares da Embrapa no mercado, tornando possível aos consumidores conhecer as novas uvas e impulsionar a sua demanda.

Programa de Melhoramento Genético de Uva

Desde 1977, dando sequência às primeiras iniciativas da antiga Estação Experimental de Caxias do Sul, a Embrapa Uva e Vinho conduz um Programa de Melhoramento voltado à obtenção de cultivares para processamento (vinho e suco) e para mesa. Os pesquisadores buscam desenvolver novas cultivares com melhor adaptação às diferentes condições edafoclimáticas das regiões onde a videira é cultivada no Brasil. Os melhoristas almejam elevadas qualidade e produtividade, alta tolerância às doenças que atacam a cultura, como o míldio e o oídio, e materiais voltados a diferentes finalidades (mesa, suco e vinho).

O Programa utiliza métodos clássicos de melhoramento com manutenção de um Banco de Germoplasma,acervo que reúne cerca de 1,4 mil tipos de uva, entre espécies cultivadas e silvestres, variedades, clones e seleções. Estão em fase de teste três seleções para vinho, três seleções para suco, e 38 seleções de uvas de mesa.

Em cerca de três anos, a Embrapa iniciará uma nova etapa de teste de validação com novas cultivares de uvas sem sementes, incluindo seleções de cachos mais soltos e com bagas maiores, para diminuir a demanda de mão de obra e uso de reguladores de crescimento. Nesse grupo, que está em processo de limpeza de viroses, há uvas brancas, vermelhas e pretas de diferentes sabores.

 

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