sábado, agosto 2, 2025

Tarifaço ameaça US$ 90 milhões em exportações de frutas do Vale do São Francisco

Tarifaço ameaça US$ 90 milhões em exportações de frutas do Vale do São Francisco

A manutenção da tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre exportações de frutas do Brasil é vista como um duro golpe por produtores da região do Vale do São Francisco. “Ainda temos esperança de uma possível negociação até 6 de agosto, para que as frutas sejam retiradas da lista tarifária”, diz Jailson Lira, presidente do Sindicato Rural de Petrolina.

Segundo ele, também estão em curso negociações, com o apoio da Associação Brasileira dos Exportadores de Frutas (Abrafrutas), para tentar adiar em 60 ou 90 dias o prazo para início da cobrança da tarifa. Neste momento, o produto mais prejudicado é a manga, que começa a ser colhida em agosto. No caso das uvas, ainda há 45 para a negociação antes de começarmos a colheita.


“Está em risco uma receita de quase US$ 90 milhões para o Vale do São Francisco, uma região árida do sertão nordestino, que produz, com muita excelência, frutas com certificação internacional”, lamenta Lira.

Segundo ele, em um cenário já desafiador, onde 60% da economia regional depende da fruticultura, a nova tarifa ameaça uma cadeia que sustenta diretamente cerca de 120 mil empregos.

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Mercado americano

Atualmente, os Estados Unidos compram 14% da manga exportada pelo Brasil, o que representa 36,8 mil toneladas. Já as vendas de uva para o mercado norte-americano respondem por 23,5% das exportações nacionais, ou cerca de 13,8 mil toneladas.

“A exportações previstas para este ano indicavam um aumento de 9% em volume sobre o ano passado e somariam 2.500 contêineres de manga e 920 contêineres de uva”, calcula Lira. Diante do cenário, a estratégia emergencial é redirecionar parte das frutas para Europa e o mercado interno, mesmo que a preços inferiores.

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Parreiral de uvas pretas em Petrolina (PE), no Vale do São Francisco. Estados Unidos respondem por 23,5% das exportações do Brasil — Foto: Tony Oliveira / CNA
Parreiral de uvas pretas em Petrolina (PE), no Vale do São Francisco. Estados Unidos respondem por 23,5% das exportações do Brasil — Foto: Tony Oliveira / CNA

Na avaliação de Cristhian Alfredo Diaz Jopia, engenheiro agrônomo da Coopexvale, a decisão inviabiliza completamente as exportações de uvas “Achávamos que chegaria a um meio termo, talvez 25%, mas com 50% não conseguimos vender a um preço que seja interessante para o consumidor e também remunere o produtor”, explica.

Segundo ele, ainda que os embarques estejam indefinidos, a colheita deve ocorrer normalmente. “ Precisamos colher, nem que seja para ganhar menos”, diz.

Lira pensa de forma semelhante. “O produtor não pode simplesmente deixar a fruta apodrecer no pé, porque ela continua consumindo reserva da planta. Então no pior cenário, será necessário fazer a colheita e enterrar para evitar a proliferação da mosca-da-fruta”, explica. A colheita da manga começa em agosto e a de uva em meados de setembro.

Relação de longa data

O presidente do sindicato rural ressalta que os produtores do Vale do são Francisco exportam há mais de 20 anos para os Estados Unidos e mantêm excelentes relações com os importadores. “Temos conversado com nossos clientes, e eles estão esperando as nossas frutas, principalmente porque as exportações do México, que abastece os Estados Unidos antes da entrada do produto brasileiro, não será em volume suficiente”, diz.

As frutas brasileiras que seguem para o mercado americano passam por uma rigorosa fiscalização sanitária sob a vigilância de fiscais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que já estão no Brasil desde o início de julho. “Eles acompanham do primeiro ao último embarque”, conta Lira.

As mangas passam por um processo hidrotérmico rigoroso para a prevenção contra a mosca-da-fruta, praga que não circula nos Estados Unidos. Já as uvas viajam por 12 dias em contêineres refrigerados a zero grau. “Toda essa estrutura está ameaçada de ser desperdiçada”, lamenta Jopia.

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