Neste mesmo momento de 2024, compradores chineses já haviam reservado entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas do grão americano
A China continua relutante em comprar soja dos EUA, mesmo depois da rodada de negociações entre autoridades de alto escalão dos dois países, semana passada, na Espanha. Em relatório divulgado nesta quinta-feira (18/09) pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a China não foi listada como compradora do grão americano na semana entre 5 e 11 de setembro. As vendas de 923 mil toneladas concentraram-se o Egito, México e Espanha.
Em um ano típico, neste período de entressafra no Hemisfério Sul, os chineses compram semanalmente o produto americano. Segundo a agência Reuters, neste mesmo momento de 2024, compradores chineses já haviam reservado entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas de soja dos EUA para embarques entre setembro e novembro.
Desta vez, reservaram 7,4 milhões de toneladas de soja da América do Sul, para embarques em outubro, cobrindo 95% da demanda projetada da China para o mês e 1 milhão de toneladas para novembro, ou cerca de 15% das importações esperadas.
Os EUA venderam cerca de 22,9 milhões de toneladas de soja para a China (seu maior comprador) no ano comercial encerrado em agosto de 2025.
Tarifaço
A guerra comercial do presidente americano Donald Trump com a China mudou a dinâmica de comércio entre os países. Depois que o presidente americano impôs, em fevereiro, tarifas sobre os produtos chineses alegando que suas práticas econômicas ameaçavam a segurança nacional dos EUA, Pequim retaliou com tarifas próprias.
Segundo a American Soybean Association, a alíquota total que a China passou a cobrar sobre a soja americana já chega a 34%, tornando-a mais cara do que a comprada do Brasil. Segundo traders asiáticos ouvidos pela Reuters, a soja americana custa cerca de US$ 0,80 a US$ 0,90 centavos por bushel a menos do que a brasileira para embarques em setembro-outubro. No entanto, a tarifa imposta pela China sobre os embarques dos EUA acrescenta cerca de US$ 2 por bushel ao custo para os importadores.
A American Soybean Association diz que a falta de interesse pelo produto americano não tem a ver apenas com o preço, mas é uma maneira de pressionar o governo Trump com questões de propriedade intelectual, venda de microchips, e acesso ao mercado chinês
Em seu último relatório de Oferta e Demanda Agrícola Mundial (WASDE), o USDA reduziu sua estimativa de exportação de soja pelos americanos, de 46,4 milhões de toneladas para 45,86 milhões em 2025/26. E traders apostam que terão novos cortes. Em 2024/25, os americanos venderam 51,02 milhões de toneladas da oleaginosa.
Preços
Como consequência desse cenário, os preços da soja continuam em baixa na bolsa de Chicago. Nestsa manhã, os contratos para novembro (os mais negociados) recuavam 0,5%, negociados a US$ 10,4125 por bushel.
“A China ainda não comprou soja dos EUA nesta nova safra e os comerciantes estão preocupados de que a demanda seja muito menor este ano. A demanda por soja dos EUA continua baixa, já que a China vem absorvendo quase toda a exportação da América do Sul”, disse Jack Scoville, do Price Futures Group, em relatório.
O andamento da colheita de soja nos EUA coloca pressão adicional para os valores futuros da soja. Segundo Scoville as condições de clima são boas para os trabalhos, com a predominância do tempo seco no cinturão produtor de grãos nos EUA.