Cadeia produtiva demonstra confiança na oferta do fruto para a próxima safra
O oeste da África, responsável por 70% da produção mundial de cacau, iniciou este mês a colheita da temporada 2025/26. Diferentemente dos últimos três anos, a cadeia produtiva está confiante de que a crise na oferta pode estar próxima do fim. Com isso, as perspectivas são de que os preços internacionais devem se afastar de vez dos patamares históricos recentes.
“Grande parte do mercado já dá como certo o superávit na produção global, primeiro pela recuperação, ainda que marginal, da oferta no oeste da África. Tivemos bons índices de chuvas entre os meses de abril e maio, período crucial para o desenvolvimento dos cacaueiros”, disse.
O segundo ponto é o sentimento de que a demanda finalmente cedeu por causa da alta exagerada dos preços. Segundo Bezon, os dados de processamento nas principais regiões consumidoras, como Europa, América do Norte e Ásia, que serão divulgados na segunda metade de outubro, devem evidenciar a queda na procura por produtos à base de cacau.
Amenizada a crise na oferta da amêndoa, que levou o preço a um recorde de US$ 12.565 mil a tonelada na bolsa de Nova York em dezembro do ano passado, espera-se agora um novo patamar para as cotações. Hoje, os preços orbitam entre US$ 6.200 e US$ 6.500 a tonelada. Um ano atrás, o valor era de US$ 7.770 a tonelada.
Bezzon disse acreditar em uma redução das cotações, mas não aos patamares considerados “normais”, vistos antes do quadro de escassez, quando a média girava em torno de US$ 3 mil a tonelada. “É difícil voltar para esse valor, pois os estoques atuais ainda são muito baixos, e precisaremos de alguns ciclos seguidos de superávit na produção mundial para ver uma melhora da relação estoque/uso. Sendo assim, a percepção de risco sobre a oferta ainda deve permanecer no mercado”, afirmou.
Na visão de Carolina França, analista de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets, os primeiros números de entregas de cacau são um ponto central para entender qual será a dinâmica dos preços globais.
“Como o cacau é uma cultura perene, os investimentos estimulados pelos preços elevados tendem a produzir efeitos apenas no longo prazo. Assim, qualquer mudança na perspectiva de safra da África Ocidental ainda tem grande peso sobre os preços e contribui para a volatilidade no curto e no médio prazo”, disse a analista.
Para Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), a melhora da produção e a queda no consumo devem reduzir a pressão sobre os preços da amêndoa e estabilizar a cadeia. Ela ponderou, no entanto, que “a retomada da confiança econômica pode voltar a estimular o consumo mundial, recolocando o equilíbrio entre oferta e demanda”.
O clima é outro ponto crucial, que deve ser monitorado durante o andamento da colheita no oeste da África, lembrou Carolina França, da Hedgepoint.
“O clima atualmente abre espaço para um bom início da safra principal a partir de 1 de outubro. Porém, um equilíbrio entre bom volume de chuvas e períodos de sol nos próximos meses é de extrema importância para o final da safra principal e início da intermediária do cacau [abril a setembro 2026]”, afirmou.
Segundo a analista, o fenômeno climático La Niña pode beneficiar as lavouras da maior região produtora do mundo. “Para o cacau, o La Niña tende a favorecer maior umidade e temperaturas mais amenas na África Ocidental, reduzindo o risco de estresse hídrico. No entanto, é importante acompanhar os efeitos do fenômeno em relação ao Harmattan (ventos secos e carregados de poeira), que começam em dezembro e podem comprometer os frutos”, ressaltou.