sábado, novembro 8, 2025

Setor leiteiro pressiona governo por investigação de importações do Mercosul

Setor leiteiro pressiona governo por investigação de importações do Mercosul

O setor produtivo brasileiro aumentou a pressão sobre o governo federal por uma solução para a queda na rentabilidade da cadeia leiteira nacional. A principal reclamação é, novamente, o aumento das importações de leite em pó de países do Mercosul, como Argentina e Uruguai.

Na quinta-feira (6/11), representantes da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do setor de laticínios se reuniram com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Márcio Elias Rosa e a secretária de Comércio Exterior da Pasta, Tatiana Prazeres.


No encontro, foram discutidas medidas de apoio para os produtores de leite de curto e médio prazo para tentar solucionar a crise imediata, disse o MDA. “Depois haverá um apoio com assistência técnica para melhorar custos de produção, aliviar o endividamento do setor e ampliação do consumo”, disse o ministro Paulo Teixeira, em nota.

Produtores reclamam da negativa do MDIC ao pedido de abertura de investigação de dumping nas exportações do Mercosul para o Brasil. A análise foi aberta a partir de argumentos apresentados pela CNA em dezembro de 2024. Na época, a entidade demonstrou que o leite em pó oriundo da Argentina estava 54% mais barato aqui do que no mercado argentino. No Uruguai, a diferença era de 53%.

- Advertisement -

Em agosto, porém, o MDIC informou que decidiu previamente não prosseguir com o processo de investigação. Pelo entendimento adotado pela Pasta, os produtores de leite não poderiam requerer o antidumping, mas sim os produtores de leite em pó, ou seja, a indústria nacional, que não foi a solicitante. O ministério passou a considerar que o leite in natura não é similar ao leite em pó.

“Essa decisão inédita negou ao produtor o acesso à única ferramenta de defesa comercial cabível e refletiu em aumento de 28% na importação de leite em pó em setembro”, disse a CNA. A entidade reagiu, apresentou novos argumentos, mas o processo ainda não andou.

De acordo com dados do Agrostat, do Ministério da Agricultura, as importações de leite em pó de janeiro a setembro passaram de 133 mil toneladas, das quais 70 mil toneladas vieram da Argentina e 47 mil toneladas do Uruguai. O volume está próximo do total importado em 2024, quando as compras totalizaram 186 mil toneladas, mas abaixo do acumulado dos primeiros nove meses do ano passado, de 137 mil toneladas.

- Advertisement -

Martins pediu ao vice-presidente da República e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, para acatar o pedido da CNA de aplicação de direitos antidumping contra os países vizinhos. Na reunião de quinta-feira, o MDIC afirmou aos representantes do setor que vai emitir uma nova posição sobre essa solicitação nas “próximas semanas”, mas não sinalizou se o parecer atenderá a demanda dos pecuaristas brasileiros.

Nesta semana, o tema foi debatido em audiência pública na Câmara dos Deputados. A CNA apontou que enquanto o governo avalia a possibilidade de investigação, as importações seguem aquecidas e prejudicam o mercado do leite ao produtor. A perspectiva é de quedas sucessivas nos preços pagos aos pecuaristas até o fim do ano, o que vai pressionar ainda mais as margens negativas da atividade, disse o assessor técnico da entidade, Guilherme Dias. “O antidumping é a única alternativa para reduzir os impactos das importações de leite de países do Mercosul”, afirmou.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, disse na audiência pública que o momento é delicado para o setor. “Precisamos de um verdadeiro freio de arrumação, que envolva ações urgentes, como o controle das importações seja com a medida antidumping ou outra ação, programas de compras governamentais e campanhas nacionais de valorização do leite e seus derivados para aumento de consumo. É essencial pensarmos também em medidas estruturais a médio e longo prazos que garantam competitividade e sustentabilidade da cadeia leiteira nacional”, afirmou.

Recentemente, o MDA criou o Grupo de Trabalho da Cadeia Leiteira da Agricultura Familiar (GT-Leite) para articular medidas emergenciais e estruturantes de apoio ao setor. “A cadeia do leite é uma das mais importantes da agricultura familiar. Este grupo será um espaço de construção conjunta, ouvindo quem está na ponta da produção e transformando as demandas das famílias em ações concretas que garantam renda, estabilidade e valorização do produtor familiar de leite”, disse, em nota, o secretário de Agricultura Familiar e Agroecologia, Vanderley Ziger.

No setor privado, uma das alternativas em estudo é a criação de um mercado futuro do leite brasileiro para dar mais previsibilidade de preços ao produtor. O contrato seria para leite em cru refrigerado, em reais por litro de leite, com vencimento mensal e liquidação financeira utilizando São Paulo como referência e tamanho de 8 mil litros para cada contrato. “A ideia é colocar essa ferramenta na B3”, disse Guilherme Dias, da CNA.

Últimas Notícias

Mais notícias