Nos últimos seis meses, o indicador do cereal Esalq/BM&FBovespa subiu 10,2% e deve avançar mais
Os preços do milho estão em ascensão no Brasil, tanto no mercado físico quanto no futuro, e a expectativa é de que sigam nessa trajetória até o primeiro trimestre de 2026, segundo analistas. Nos últimos seis meses, o indicador Esalq/BM&FBovespa, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), subiu 10,2%, chegando a R$ 70,15 a saca ontem. Na B3, o preço atingiu R$ 76 a saca, indicando que ainda há fôlego para o milho avançar mais.
Por trás da valorização está o risco de atraso no plantio da próxima safrinha de milho, que é semeada após a colheita de soja da temporada 2025/26, e a retenção de milho por produtores.
De acordo com Ronaldo Fernandes, analista da Royal Rural, neste segundo semestre, as cotações ensaiam movimento semelhante ao da primeira metade do ano. Em março, o indicador do Cepea alcançou os R$ 89 a saca.
“Quando analisamos o gráfico dá a entender que o preço quer voltar para essa faixa dos R$ 90. Existe essa expectativa porque o produtor está muito retraído nas vendas, e é compreensível essa postura. Como há um atraso no plantio da soja, ele não sabe se terá uma janela ideal para a semeadura do milho”, observa Fernandes.
Dado mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que o plantio de soja da safra 2025/26 acelerou apenas na reta final dos trabalhos. Após semanas de atraso, as chuvas favoreceram a semeadura, que chegou a 94,1% da área na semana encerrada em 6 de dezembro, acima dos 90,3% plantados nessa mesma época do ano passado. No relatório anterior, a estatal indicava o plantio em 86%, abaixo dos 90% de um ano antes.
Segundo o analista da Royal, o preço deve se manter firme até janeiro, podendo alcançar R$ 75 nos próximos meses. Mas o clima no início de 2026 pode mudar o cenário. “As chuvas vão dizer se o milho vai continuar subindo ou não. Já há um atraso para janela da safrinha, e os mapas mostram potencial para precipitação durante fevereiro e março”, quando acontece a colheita da soja, acrescentou.
Se isso se confirmar, disse Fernandes, a tendência é de que a soja suba em pleno período de colheita, o que pode estimular a retenção do milho por produtores na expectativa de valorização.
A estratégia do produtor de segurar o milho pode ter prazo de validade, observou Fernandes, uma vez que ele precisará preparar seus armazéns para receber uma nova supersafra de soja, a partir de janeiro de 2026.
Francisco Queiroz, analista da consultoria Agro do Itaú BBA, disse que o milho se valorizou também influenciado pela alta das cotações na bolsa de Chicago. No cenário externo, o milho acumula ganho de 2% nos últimos 12 meses. A demanda doméstica firme também contribui para o aumento.
“Há um consumo muito forte de milho, seja pela indústria de ração, e principalmente no setor de etanol. A procura das usinas cresce ao menos 10% toda a safra para essa finalidade”, disse Queiroz, acrescentando que o ritmo lento das vendas também sustenta a alta . Nos cálculos do Itaú BBA, ainda restam 35% da produção de milho para ser negociada.
Mas Queiroz não acredita que a alta se consolide em 2026. “Não apostaria em uma alta como aconteceu em março. Além da expectativa de uma safra de verão maior neste ciclo, temos um estoque de passagem muito maior em relação ao ano passado”, afirmou.
Leonardo Martini, analista de gestão de riscos da StoneX, observou que o momento atual de mercado de milho é semelhante àquele visto no ano passado, quando preocupações com a janela de plantio da safrinha também impulsionam as cotações internas.


