Nova cultivar de cajueiro oferece alta produtividade e resistência no Ceará
A Embrapa Agroindústria Tropical (CE) lança, neste mês de dezembro de 2025, o clone de cajueiro BRS 805, uma cultivar desenvolvida inicialmente para a região litorânea do Ceará e áreas afins. Com o objetivo de fortalecer a cajucultura do estado, maior produtor nacional de castanha, a nova cultivar chega com a proposta de oferecer aos produtores uma maior produtividade em castanha, em comparação com a cultivar mais plantada (‘CCP 76). O edital para aquisição dos propágulos será lançado no dia 12 de janeiro de 2026.
“Esse material surgiu de um experimento em uma fazenda localizada no município de Pio IX (PI). Os pesquisadores selecionaram uma planta, em que as castanhas foram colhidas para a produção de progênies (plantas oriundas das sementes). O experimento foi instalado no Campo Experimental de Pacajus, e ao término foi selecionada uma das plantas filhas, identificada como PRO 805/4”, explica. Essa planta foi clonada (mudas enxertadas) para ser avaliada e comparada com outros clones.
Desde 2003, o clone passou a ser avaliado em condições de sequeiro na região litorânea do Ceará, no município de Pacajus, e, a partir de 2011, no município de Cruz e 2015 em Itapipoca, demonstrando um desempenho superior e consolidando-se como uma alternativa de alta rentabilidade.
As produtividades médias alcançaram 1.800 quilos de castanhas por hectare (Kg/ha) entre o 5º e o 7º ano de idade. Esse resultado é o dobro da média obtida pela cultivar-testemunha, o clone CCP 76. No mesmo período, a média anual de produção do pedúnculo chegou a 23,8 toneladas por hectare (t/ha), também o dobro do clone testemunha. Para Melo, além da alta produtividade, o clone se destaca pela maior segurança fitossanitária, uma vez que é considerado resistente ao mofo-preto, antracnose e septoria, enfermidades que prejudicam a cultura.
Quanto ao oídio, o pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical Marlon Valentim observou que o BRS 805 é mais tolerante ao oídio (pior doença da cajucultura brasileira) quando comparado ao CCP 76. Essas características significam menor necessidade de aplicação de fungicidas, reduzindo o custo de produção e fornecendo maior segurança alimentar para o consumidor.
Em relação ao manejo, Luiz Serrano, também pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, recomenda um maior espaçamento para o cultivo, pois as plantas apresentam porte intermediário, atingindo entre 3 a 4 metros de altura e até 7 metros de envergadura. Pelo formato da copa do tipo taça compacta, o clone se torna uma excelente opção para áreas mecanizadas permitindo livre movimentação de tratores sem quebras de ramos produtivos das plantas.
O novo clone da Embrapa oferece, ainda, um produto de excelente aceitação no mercado de processamento. As castanhas, com massa média em torno de 10 gramas (g), são semelhantes às do clone BRS 226, bem cotadas no mercado. As amêndoas são classificadas como tipo LW ou W210 (entre 181 e 210 amêndoas por libra-peso), com um rendimento industrial médio de 23,2%.
O pedúnculo é de coloração vermelha intensa, chamando a atenção pela beleza, tem formato cônico (piramidal) de bom tamanho, possuindo teor de Vitamina C cinco vezes superior ao encontrado na laranja (270 miligramas por 100 gramas de polpa). É recomendado principalmente para o processamento industrial.
O público-alvo do BRS 805 são os viveiristas de mudas de cajueiro com registro ativo no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem). O processo inicial de comercialização será feito por meio de um edital de oferta pública, no qual a Embrapa licenciará propágulos do clone para os viveiristas selecionados.
A nova cultivar chega para reforçar o portfólio de cultivares da Embrapa e contribuir para o fomento da cadeia produtiva a partir da renovação dos pomares. “Nós sempre recomendamos que o produtor diversifique o seu pomar. Caso ocorra a chegada de novas doenças ou pragas, ele conta com clones mais resistentes ou tolerantes, evitando a perda da produção”, afirma Melo.
Para o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroindústria Tropical, José Roberto Vieira, a cajucultura passa por um momento de inflexão: “Nós temos dois caminhos a seguir. O primeiro é continuar no modelo semiextrativista, com baixa produtividade (em torno de menos de 500 quilos de castanha por ano), alta variabilidade genética, baixo rendimento de amêndoas e baixo aproveitamento de pedúnculo”, diz.
E acrescenta: “O segundo caminho consiste em adotar tecnologias, buscando o chamado modelo de alto rendimento ou cajucultura tecnificada. Nesse modelo, preconizamos a produtividade de castanha superior a 1.500 quilos por hectare/ano, uniformidade de castanha, alto rendimento de amêndoas e alto aproveitamento de pedúnculo (superior a 50%)”.
Segundo Vieira, se, em uma primeira etapa, existe maior gasto com investimento, esse valor se dilui quando da produtividade por hectare. “Apesar de gastar mais por hectare, na prática o que acontece é que o custo é menor por quilo de castanha produzida, se pensarmos só em castanha. Se incluirmos o pedúnculo nessa conta, em alguns municípios, por exemplo, como Severiano Melo e Apodi, no Rio Grande do Norte, observamos que o custo de produção cai ainda mais”, argumenta.
O Brasil produziu 161.014 toneladas de castanha de caju em 2024. Trata-se do maior resultado desde a safra de 2018, ano final do período de seca que assolou a região produtora, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com 2023, o crescimento registrado foi de 38%.
O estado do Ceará, maior produtor nacional, obteve um aumento de 61% em sua produção, passando de 63.256 toneladas para 101.930 toneladas. O Piauí, segundo colocado no ranking, também contabiliza um aumento de 25% no período, saltando de 20.992 toneladas, em 2023, para 26.172 toneladas, em 2024. Ocupando a terceira posição, o Rio Grande do Norte produziu cerca de 21 mil toneladas nos últimos dois anos.
O indicador de rendimento médio, que calcula a relação da produção de castanha-de-caju (em quilogramas por hectare), também fechou o ano com aumento de 30%. Em números absolutos, o rendimento nacional variou de 271 kg por hectare, em 2023, para 358 kg por hectare, no ano passado.
O BRS 805 é o décimo quarto clone do Programa de Melhoramento Genético da Embrapa lançado para o mercado. Cada um deles possui características e destinações diferentes, atendendo a demandas de produtores e indústrias, bem como especificidades de clima e de solo.
Quem planta os clones de cajueiro da Embrapa sabe que vai colher, com ou sem chuvas. Enquanto outras frutíferas necessitam de altas quantidades de água, o cajueiro consegue produzir com uma precipitação anual entre 600 e 800 milímetros, pois é uma planta genuinamente do Nordeste brasileiro. Em anos de elevados déficits hídricos são esses materiais genéticos que se mantêm produtivos no pomar. Além disso, o cajueiro proporciona renda e prosperidade no período oposto ao da quadra invernosa, contribuindo para o desenvolvimento de uma classe média rural.
O CCP 76, um dos primeiros clones de cajueiro da Embrapa, é o clone mais plantado na Região Nordeste e no Brasil. Devido ao sabor agradável e qualidade do pedúnculo, é o preferido para a produção de caju de mesa, com uma produtividade de 9.600 quilos de pedúnculo por hectare, apresentando desempenho na produção de castanhas entre 600 kg (sem tratos culturais) a até 1.200 quilos (com tratos culturais) por hectare.
Alguns desses materiais genéticos foram selecionados em regiões extremamente secas do Semiárido e, além de alta produtividade, suportam bem solos arenosos e ácidos. Entre esses clones se destacam o BRS 226 e o Embrapa 51 que podem alcançar entre 1.200 a 2.000 quilos de castanhas por hectare, em condições ideais de manejo.
Tanto o BRS 226 quanto o Embrapa 51 tiveram sua resistência hídrica comprovada durante a grande seca da última década. Em tempos de urgência climática, essa vantagem é estratégica para a agricultura no Semiárido.


