A produção de pequi no Brasil, que por décadas foi obtida por meio do extrativismo, sustentando agricultores familiares e movimentando economias locais, deve alcançar um novo patamar nos próximos anos. Isso porque na região Centro-Oeste, especialmente no Mato Grosso e em Goiás, agricultores estão apostando no cultivo do pequi sem espinho como opção de lavoura comercial, transformando a forma de produzir a fruta símbolo do Cerrado.
De acordo com Elainy Pereira, pesquisadora da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater -GO), desde 2000 o cultivo do pequi ocorre em áreas protegidas, de reserva legal, que o produtor deve manter por lei.
“É uma opção que atende às exigências ambientais e garante uma renda ao agricultor, mas, com o lançamento do pequi sem espinho, novas modalidades de plantio começam a se intensificar”, conta.
As novas variedades sem espinho foram desenvolvidas por pesquisadores da Embrapa Cerrados em parceria com a Emater-GO e são ideais para a indústria alimentícia e consumidores que buscam mais praticidade. A ausência de espinhos facilita a extração da amêndoa e o fruto, embora tenha as mesmas características de cor e sabor que o convencional, tem polpa mais grossa e suculenta.
“O produtor hoje sabe o que vai colher e em quanto tempo. Isso muda completamente o cenário”, afirma a pesquisadora. Da mesma opinião compartilha o produtor e viveirista Mauro Filho, um dos sócios da Plant Roots Viveiro Ambiental, empresa instalada em Inhumas (GO), onde são produzidas 2 milhões de mudas de espécies exóticas por ano. “Comercializamos anualmente entre 60 mil e 70 mil mudas de pequi sem espinho”, conta Filho.
Segundo ele, a demanda está bastante aquecida, embora os preços sejam bem superiores aos do pequi com espinhos. “A muda do fruto sem espinho é comercializada a R$ 150,00, valor dez vezes maior que o fruto com espinho”, diz o viveirista.
Mauro Filho também investiu na produção da fruta e mantém uma lavoura de 4 mil pés da variedade sem espinho, dos quais 2 mil já estão em produção. “ Ela é mais precoce, começa a produzir após quatro anos e rende uma safra boa a cada dois anos”, conta.
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Em Mato Grosso, o município de Ribeirão Cascalheira, no território do Médio Araguaia, é o principal polo produtor do fruto no Estado. Agricultores familiares projetam para 2025 um aumento de 30% na produção, para 520 toneladas.
Durante a safra, entre meados de outubro e o mês de dezembro, o pequi se transforma na principal fonte de renda para cerca de 1,5 mil famílias da região.
No município, cerca de 80% do volume colhido vem de plantas nativas, favorecidas pelo solo e pelas condições naturais do Cerrado. Em Mato Grosso, os plantios comerciais de pequi sem espinho também começam a ganhar espaço, principalmente em municípios como Gaúcha do Norte, Querência, Canarana, Pontal do Araguaia e Terra Nova do Norte.
“Em Gaúcha do Norte, por exemplo, já existem cerca de 60 hectares cultivados, com pomares que começaram a produzir há dois anos”, conta Clodoaldo Maccari, extensionista da Empaer.
Os novos plantios utilizam, em sua maioria, mudas enxertadas, técnica que reduz o tempo de entrada em produção e garante maior uniformidade.
Segundo Maccari, a planta começa a produzir com quatro a cinco anos, e a produção se estabiliza a partir do oitavo ano. Em média, uma árvore adulta pode render de quatro a cinco caixas de 30 quilos por safra. Ele explica que, apesar da fama de planta rústica, o pequi exige cuidados nos primeiros anos, como o controle de pragas e adubação adequada.


