Congresso Conecta Agro reúne produtores, cooperativas e empresas
Até sexta-feira (4), o Congresso Conecta Agro reúne produtores, cooperativas e empresas em um ecossistema voltado à gestão, inovação e mercado no agronegócio
Com foco em soluções para o fortalecimento do agronegócio nacional, o Congresso Conecta Agro (CCAgro) abriu sua programação nesta terça-feira (2), em Campinas (SP), reunindo produtores rurais, lideranças de cooperativas e especialistas para discutir temas estratégicos para o futuro do agro brasileiro. O evento acontece até sexta-feira (4), no Expo Dom Pedro, com cinco fóruns simultâneos dedicados a culturas como soja, milho, algodão, trigo, cana e café.
Um dos temas centrais no primeiro dia foi o acesso ao crédito rural, especialmente após o anúncio do Plano Safra 2025/26 pelo Governo Federal. Para Luciana Martins, diretora executiva do Grupo Conecta e conselheira de empresas do agro, o momento exige atenção redobrada. “O anúncio do novo Plano Safra chega num momento desafiador para o agronegócio brasileiro, marcado por custos elevados, queda nos preços de algumas commodities e economia instável. As linhas de crédito são fundamentais para dar fôlego ao produtor, mas o setor ainda aguarda taxas de juros mais acessíveis e agilidade na liberação dos recursos. O produtor precisa ter segurança para investir e continuar sendo protagonista na economia do país.”
Além do crédito, o evento também debateu governança, sucessão e reforma tributária, com especialistas reforçando a importância de planejamento fiscal e patrimonial para facilitar o acesso a financiamentos e garantir sustentabilidade no longo prazo.
A infraestrutura de armazenagem foi outro ponto crítico em pauta. O Brasil, que já ultrapassa 330 milhões de toneladas de produção de grãos, convive com um déficit estimado de mais de 100 milhões de toneladas em capacidade estática. “Com isso, perdemos eficiência logística, aumentamos os custos e, em muitos casos, sofremos perdas na qualidade do produto”, alertou Milton Schmitt, diretor comercial da Consilos.
Volatilidade e adaptação no mercado de café
No mesmo dia, em outra plenária, o Encontro de Gestão dos Cafeicultores, realizado dentro do CCAgro, reuniu produtores, especialistas e representantes de cooperativas para analisar o atual cenário da cafeicultura nacional e internacional. Após um ano de forte valorização, o setor agora enfrenta um ambiente de volatilidade nos preços, incertezas climáticas e retração no consumo doméstico.
Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooxupé, destacou que os preços, que chegaram a ultrapassar R$ 2.500 por saca, agora giram em torno de R$ 1.700. “Ainda é um patamar considerado bom, mas a tendência é de incerteza. Com cerca de 40% da safra já colhida, percebemos que o rendimento do café beneficiado está abaixo do esperado. Estamos usando mais grãos para formar uma saca limpa, o que pode reduzir a oferta total e influenciar o mercado futuramente”, afirmou. Ele também criticou as atuais condições de crédito para o setor: “Mesmo com um Plano Safra robusto, as taxas de juros inviabilizam o financiamento. Além disso, a insegurança jurídica e tributária aumenta a apreensão no campo.”
A diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC), Vanúsia Nogueira, trouxe uma visão de futuro voltada aos mercados emergentes. “Regiões como Ásia e África concentram 70% da população mundial e estão aprendendo a tomar café. O crescimento do consumo nesses países é acelerado, especialmente na China, Índia, Coreia do Sul e Vietnã. Precisamos estar preparados para atender essa nova demanda com rastreabilidade, sustentabilidade e qualidade”, afirmou.
Para Roberta Paffaro, especialista em gestão estratégica no agro, o momento exige mais do que boa produtividade. “Não se trata mais apenas de quanto vale o café, mas de como produzir com eficiência, reduzir riscos, manter governança e atender às exigências dos mercados internacionais. Quem tiver planejamento sairá na frente.”
Fernando Maximiliano, gerente de inteligência de mercado da Stonex, analisou o comportamento recente das cotações. Segundo ele, os preços internacionais caíram de 400 para 300 centavos de dólar por libra-peso nos últimos meses, reflexo da entrada da nova safra brasileira e da recomposição parcial dos estoques globais. “Ainda operamos acima da média histórica. Estamos há quatro anos com déficit na produção global, consumindo estoques. Esse equilíbrio frágil exige cautela”, pontuou.
As condições climáticas também estão no radar do setor. O meteorologista Luiz Carlos Molion fez uma análise profunda cruzando dados internacionais e como as massas polares atingem áreas produtoras em julho, e sobre os riscos climáticos. “Quem tem terras baixas tem de se preocupar com geadas mais tardias”, alerta o especialista. Em 2025, a previsão é de chuvas acima da média, com acumulado de até 1.700 mm — cerca de 15% a mais que o normal. Molion também apresentou dados que indicam um possível resfriamento global até 2035. “Nos próximos anos, o clima deve ter mais eventos extremos, como granizo entre outubro e dezembro, e menos dias com chuva no inverno. O Pacífico entra em neutralidade, o que mantém as chuvas influenciadas por frentes frias vindas do Hemisfério Norte”, analisa.
Na parte técnica, Vinícius Giroto, especialista da Yara Fertilizantes, apresentou ferramentas para aumentar a resiliência da lavoura. “Estamos investindo em produtos de matriz orgânica, fértil irrigação e soluções que melhorem a estrutura do solo e o uso da água. O objetivo é manter a performance da planta mesmo em condições adversas”, explicou.
Espaço para construir soluções
O Congresso Conecta Agro segue até sexta-feira (4), com uma programação voltada a temas técnicos, ambientais, regulatórios e de mercado. Para Graziela Gonçalves, diretora do Grupo Conecta, o evento se consolida como um espaço de conexão real entre os diferentes elos da cadeia do agro. “Este encontro foi pensado com muito carinho para ser mais do que um evento — ele é um espaço de encontro, aprendizado e troca de experiências. Um ambiente para conversar, compartilhar ideias, ampliar horizontes e iniciar novas conexões. Aqui, cada pessoa importa. Cada história, cada café compartilhado, cada bate-papo tem o potencial de gerar parcerias, inspirações e soluções.”
O primeiro dia foi de movimentação e networking. A John Deere abre os caminhos do CCAgro com sua tradição em inovação para o campo, reunindo soluções em agricultura. A Ford também marca presença com foco em mobilidade e veículos para o agro. A BASF apresenta Efficon®? e os fungicidas Belyan®?, Blavity®? e Keyra®?, que integram o programa Escudo Verde. Também presente, a Algar aposta em conectividade e inteligência artificial para aumentar a produtividade no campo. A Barchart traz tecnologia em dados para apoiar decisões na comercialização de grãos, enquanto a Biotrop mostra como os bioinsumos vêm transformando a agricultura regenerativa. Participam ainda Faesp/Senar, OCB, Consilos com soluções para armazenagem, Cooxupé com sua cafeicultura sustentável, Husqvarna e InCeres com foco em solo e digitalização, Netafim com irrigação inteligente, Senior com o inovador Roteirizador de Campo, SaveFarm com sua pulverização seletiva de alta precisão e a Yara com a linha YaraAmplix para nutrição de plantas. Tudo isso em um evento que vai muito além de um congresso — o CCAgro é um espaço vivo de conexões, inovação e futuro para o agro brasileiro.