terça-feira, dezembro 30, 2025

Cultivo de pequi sem espinho traz novo fôlego para produção da fruta símbolo do Cerrado

Cultivo de pequi sem espinho traz novo fôlego para produção da fruta símbolo do Cerrado

A produção de pequi no Brasil, que por décadas foi obtida por meio do extrativismo, sustentando agricultores familiares e movimentando economias locais, deve alcançar um novo patamar nos próximos anos. Isso porque na região Centro-Oeste, especialmente no Mato Grosso e em Goiás, agricultores estão apostando no cultivo do pequi sem espinho como opção de lavoura comercial, transformando a forma de produzir a fruta símbolo do Cerrado.

De acordo com Elainy Pereira, pesquisadora da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater -GO), desde 2000 o cultivo do pequi ocorre em áreas protegidas, de reserva legal, que o produtor deve manter por lei.


“É uma opção que atende às exigências ambientais e garante uma renda ao agricultor, mas, com o lançamento do pequi sem espinho, novas modalidades de plantio começam a se intensificar”, conta.

As novas variedades sem espinho foram desenvolvidas por pesquisadores da Embrapa Cerrados em parceria com a Emater-GO e são ideais para a indústria alimentícia e consumidores que buscam mais praticidade. A ausência de espinhos facilita a extração da amêndoa e o fruto, embora tenha as mesmas características de cor e sabor que o convencional, tem polpa mais grossa e suculenta. 

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“O produtor hoje sabe o que vai colher e em quanto tempo. Isso muda completamente o cenário”, afirma a pesquisadora. Da mesma opinião compartilha o produtor e viveirista Mauro Filho, um dos sócios da Plant Roots Viveiro Ambiental, empresa instalada em Inhumas (GO), onde são produzidas 2 milhões de mudas de espécies exóticas por ano. “Comercializamos anualmente entre 60 mil e 70 mil mudas de pequi sem espinho”, conta Filho.

Segundo ele, a demanda está bastante aquecida, embora os preços sejam bem superiores aos do pequi com espinhos. “A muda do fruto sem espinho é comercializada a R$ 150,00, valor dez vezes maior que o fruto com espinho”, diz o viveirista.

Mauro Filho também investiu na produção da fruta e mantém uma lavoura de 4 mil pés da variedade sem espinho, dos quais 2 mil já estão em produção. “ Ela é mais precoce, começa a produzir após quatro anos e rende uma safra boa a cada dois anos”, conta.

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Produtor e viveirista Mauro Filho, um dos sócios da Plant Roots Viveiro Ambiental — Foto: Divulgação
Produtor e viveirista Mauro Filho, um dos sócios da Plant Roots Viveiro Ambiental — Foto: Divulgação

Em Mato Grosso, o município de Ribeirão Cascalheira, no território do Médio Araguaia, é o principal polo produtor do fruto no Estado. Agricultores familiares projetam para 2025 um aumento de 30% na produção, para 520 toneladas. 

Durante a safra, entre meados de outubro e o mês de dezembro,  o pequi se transforma na principal fonte de renda para cerca de 1,5 mil famílias da região.

“O pequi sustenta essas famílias nesse período do ano. Em 2025, estamos chegando a uma média de 1,2 mil caixas por dia, o que mostra a força da safra”, afirma Carlos Alberto Quintino, extensionista da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer).

No município, cerca de 80% do volume colhido vem de plantas nativas, favorecidas pelo solo e pelas condições naturais do Cerrado. Em Mato Grosso, os plantios comerciais de pequi sem espinho também começam a ganhar espaço, principalmente em municípios como Gaúcha do Norte, Querência, Canarana, Pontal do Araguaia e Terra Nova do Norte.

“Em Gaúcha do Norte, por exemplo, já existem cerca de 60 hectares cultivados, com pomares que começaram a produzir há dois anos”, conta Clodoaldo Maccari, extensionista da Empaer.

Os novos plantios utilizam, em sua maioria, mudas enxertadas, técnica que reduz o tempo de entrada em produção e garante maior uniformidade. 

Segundo Maccari, a planta começa a produzir com quatro a cinco anos, e a produção se estabiliza a partir do oitavo ano. Em média, uma árvore adulta pode render de quatro a cinco caixas de 30 quilos por safra. Ele explica que, apesar da fama de planta rústica, o pequi exige cuidados nos primeiros anos, como o controle de pragas e adubação adequada.

Juntos,  Mato-Grosso e Goiás produziram em 2024 cerca de 3,4 mil toneladas de pequi, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Minas Gerais lidera a produção nacional, com safra em torno de 42,5 mil toneladas, ainda obtidas de forma extrativista.

Além de ser amplamente consumido in natura no Centro-oeste e em regiões de Minas Gerais, o pequi é matéria-prima para conservas, extração de óleo, aplicação na indústria cosmética, produção de sabonetes e uso medicinal, inclusive na forma de cápsulas.

“O pequi ainda é visto como uma fruta exótica e tem nos mercados do Sudeste e do Sul grande potencial de exploração”, avalia Maccari.

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