Tarifaço dos EUA gerou temor entre exportadores de manga do Vale do São Francisco, mas embarques ao mercado americano aumentaram
O tarifaço de 40% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros levou grande incerteza aos exportadores de manga do Vale do São Francisco quando foi anunciado, em agosto. Na região de Juazeiro, maior produtor nacional da fruta, o receio era de que o mercado doméstico fosse inundado com a variedade tommy, a mais exportada aos americanos. Isso, no entanto, não aconteceu, segundo produtores e exportadores visitados pela reportagem no fim de novembro. Pelo contrário, houve aumento nos embarques aos EUA.
As estatísticas confirmam: de agosto, início do tarifaço, até o mês passado – quando as taxas ainda estavam em vigor – foram exportadas 36,3 mil toneladas de manga aos EUA, 16,6% mais que as 31,1 mil toneladas no mesmo intervalo de 2024. A receita com as exportações, contudo, recuou 24% na mesma base de comparação, indicando queda expressiva nos preços médios de venda. Saiu de US$ 39,3 milhões entre agosto e novembro do ano passado para US$ 29,8 milhões no mesmo período deste ano, conforme dados do ComexStat, portal de estatísticas de comércio exterior do Brasil. Os dados incluem mangas frescas ou secas.
Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), afirma que não houve queda nos volumes porque prevaleceu o “bom senso e o equilíbrio” nas negociações. Segundo ele, exportadores, importadores e distribuidores negociaram e decidiram, em consenso, dividir o custo da taxação, o que tornou viável os embarques.
Outros fatores favoreceram os exportadores brasileiros, disse Coelho. Normalmente, a manga do Brasil entra no mercado americano a partir de agosto, quando o México ainda está vendendo a fruta aos EUA. Mas neste ano, o país saiu mais cedo das vendas. Além disso, o Equador, que tradicionalmente exporta manga aos EUA a partir da segunda quinzena de outubro, atrasou sua entrada. Com isso, o Brasil, que exporta entre agosto e novembro, acabou beneficiado. “Os exportadores conseguiriam atravessar a safra sem grandes percalços”, afirmou.
João Marcos Souza, da área de mercado externo da GrandValle, de Casa Nova, disse que a taxação de 40% afetou a expansão de novas parcerias pela empresa produtora e exportadora de frutas. “Mas os parceiros [comerciais] que já estavam com a gente, eles vestiram a camisa e tentaram trabalhar do nosso lado, o que ajudou a manter a exportação aos EUA”.
“Espera-se que nas próximas temporadas haja também a saída da uva [da lista de produtos afetados pelo tarifaço]”, disse Souza, da GrandValle, acrescentando que apenas uma variedade de uva tem sido exportada para os EUA.
O presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho, disse estar otimista em relação à retirada da taxação sobre a uva brasileira, enquanto o governo brasileiro segue em negociações com as autoridades americanas. “Os EUA não são autossuficientes”, disse.
De agosto a novembro, as exportações brasileiras de uva para os EUA caíram 67% em comparação com igual intervalo de 2024, para 2,312 mil toneladas. A receita teve queda semelhante, para US$ 7,451 milhões, segundo o ComexStat.


