quinta-feira, julho 31, 2025

Exportadores de carnes terão que focar na Ásia devido ao tarifaço

Exportadores de carnes terão que focar na Ásia devido ao tarifaço

A confirmação de uma tarifa adicional de 40% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, que somada aos 10% anunciados em abril vai a 50%, é uma medida considerada muito ruim para os exportadores de carne bovina. Isso porque o setor já contava com uma taxa de 26,4% antes das sobretaxas anunciadas neste ano, totalizando agora 76,4% em tarifas, o que inviabiliza os embarques ao mercado americano e força o setor a focar em compradores da Ásia e Oriente Médio.

“A carne bovina não ter sido inclusa na lista de exceções de produtos que não serão tarifados é muito ruim”, afirmou Fernando Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado. O suco de laranja brasileiro, por exemplo, foi uma das exceções e escapou da nova taxa.


Iglesias avalia que o cenário se tornou problemático para o mercado da carne, uma vez que os americanos vinham comprando volumes elevados de carne bovina do Brasil neste ano.

“Nós vamos precisar buscar mercado lá fora para suprir essas nossas necessidades de demanda. O Brasil vai ter que focar em mercado asiático, no Oriente Médio, o mercado chinês, que é um parceiro comercial importante”, ressaltou o especialista sobre as alternativas que restam aos frigoríficos brasileiros.

Vale destacar que os produtos embarcados até 5 de agosto não sofrerão com as tarifas adicionais, e as cargas que chegarem aos portos americanos até o dia 10 de agosto também não. “Isso oferece um fôlego, um respiro, para a indústria frigorífica brasileira, mas a gente sabe que essas exportações estão com dias contados”, acrescentou.

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Ontem (29/7), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) estimou que a ausência de vendas de carne bovina do Brasil aos Estados Unidos no decorrer do segundo semestre pode trazer um impacto negativo de US$ 1 bilhão ao mercado brasileiro.

O montante corresponde a cerca de 200 mil toneladas que deixarão de ser enviadas aos americanos quando entrarem em vigor as novas tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump. Antes das sobretaxas, a expectativa da associação era fechar 2025 com cerca de 400 mil toneladas exportadas aos EUA.

Apesar do cenário preocupante, as ações dos principais frigoríficos de carne bovina do país negociadas na B3 operam em alta. Por volta das 16h25, os papéis da Minerva subiam 3,19% e os da Marfrig avançavam 3,30%.

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“Acho que é essa sensação de que os Estados Unidos começaram a recuar nas tarifas contra alguns itens do Brasil”, disse o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, citando a lista de produtos que ficaram como exceções e não sofrerão com as novas taxas.

Exportadores de carne

O presidente a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, afirmou que o setor exportador de carnes está preocupado, já que o impacto negativo sobre o segmento é estimado em US$ 1 bilhão.

“Preocupa o setor produtivo brasileiro. Os EUA são nosso segundo maior mercado, e essa taxa inviabiliza a exportação de carne bovina aos Estados Unidos”, disse a jornalistas ao chegar no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, onde deve se reunir com o vice-presidente Geraldo Alckmin.

“Mantemos a expectativa de impacto de US$ 1 bilhão. A nossa expectativa era exportar 400 mil toneladas de carne e nós não vamos conseguir com essa tarifa”, completou.

Perosa afirmou também que o setor ainda aposta na negociação entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos para que a venda de carne bovina brasileira possa ser isenta da tarifa.

“Nós apostamos ainda que haja negociação entre os governos para que possamos retomar o fluxo normal de comércio”, disse a jornalistas. Perosa admitiu que o prazo dado pelos EUA para início da taxação — a partir de 6 de agosto — foi “satisfatório” e que deve viabilizar a internalização de cerca de 30 mil toneladas que já estavam em navios em direção aos portos norte-americanos.

“[O novo prazo] colabora, faz com que as carnes que estavam ao mar, já desembaraçadas nas aduanas brasileiras, possam chegar aos EUA em tempo hábil. O prazo dado é satisfatório”, afirmou. Recentemente, o executivo havia dito que o volume de carne a caminho dos EUA representava cerca de US$ 160 milhões.

Segundo Perosa, “vários produtos” não entraram na primeira lista de isenções, e por isso mantém a expectativa de que o tratamento dado às carnes possa ser alterado com mais negociação bilateral. O setor privado continuará em contato com os importadores para intensificar as tratativas nos EUA, disse ele.

“Temos que negociar com os EUA, explicar que a venda de carne bovina brasileira aos EUA é uma complementaridade à produção americana”, explicou. “Os EUA vivem o menor ciclo pecuário dos últimos 80 anos. A carne que o Brasil vende aos EUA é insumo para fazer hambúrgueres, que representa a maior quantidade de carne consumida por lá. Precisamos explicar isso ao povo americano, que terá um  impacto inflacionário para o povo americano, e que possamos continuar mandando sem que tenha essa tarifação”, completou.

A inviabilização do mercado norte-americano pode aumentar, em parte, a oferta de carne bovina no mercado nacional e gerar certa acomodação nos preços, mas esse não é um movimento sustentável, disse Perosa.

“Esse volume de venda aos EUA são de cortes não tão consumidos no Brasil. Claro que uma parte será absorvida pelo mercado interno, as o recuo do preço no mercado interno pode causar um desarranjo na cadeia bovina brasileira. Com a queda do preço da arroba do boi e de vários insumos, isso desarranja a cadeia”, explicou. “Em um primeiro momento pode parecer positivo [queda nos preços da carne], mas logo à frente pode haver falta de carne no médio prazo se a gente não conseguir novas destinações”, alertou.

Segundo ele, se não for possível reverter o quadro de taxação, a alternativa dos frigoríficos será redirecionar a produção para outros mercados. Ele disse que as indústrias já interromperam a produção de cortes específicos destinados aos EUA, como recortes do dianteiro bovino, mas que não houve paralisação de plantas.

“A alternativa é redistribuir isso ao redor do mundo, mas não ha nenhum mercado com tanta especificação quanto o americano e com a rentabilidade que o mercado americano dá à carne bovina brasileira. Portanto, não há um substituto imediato”, disse aos jornalistas. “Se não for possível isso [derrubar as tarifas], que o Brasil explore novas possibilidades de mercado, como Japão, Coreia do Sul, Turquia, enfim, outros mercados que possamos readequar a carne bovina brasileira”, concluiu.

No início de agosto, secretários do Ministério da Agricultura e representantes do setor privado vão ao Japão e à Coreia do Sul para tentar avançar nas negociações para aberturas de mercado. Juntos à Turquia, esses são os três principais destinos fechados atualmente para a proteína nacional.

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