Com um dos “melhores invernos da década”, expectativa é de que a produção cresça 37%, recuperando perdas dos últimos anos
O inverno mais rigoroso deste ano tem sido benéfico aos pomares de maçã e está animando os produtores da fruta, que esperam colher em 2026 uma safra 37% maior que a de 2025. “Este é um dos melhores invernos da última década”, avalia Francisco Schio, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM).
Se o clima continuar favorável, a ABMP projeta uma produção de 1,1 milhão de toneladas de maçãs em todo o País, um incremento de 300 mil toneladas sobre a safra passada, que foi marcada por um inverno pouco frio e pela polinização irregular devido ao excesso de chuvas na época da floração e ocorrência de fumaça de queimadas vindas do Centro-Oeste.
O frio intenso, explica Schio, é o primeiro passo para garantir o vigor das gemas que irão florescer em setembro. Para a fruta chegar crocante e doce à mesa, a macieira precisa primeiro adormecer durante o inverno gelado. De acordo com Schio, a estação mais fria do ano é o período em que a planta permanece em dormência, com o metabolismo reduzido, armazenando energia para a retomada do crescimento na primavera.
Para o bom desenvolvimento da maçã, são necessárias mais de 600 horas por ano com temperaturas abaixo de 7°C. Além disso, o clima precisa ser constante, sem a ocorrência de “veranicos”, como são chamados os períodos de calor fora de época. É exatamente o que está ocorrendo este ano. “As horas de frio mais que o dobraram em relação ao inverno passado”, diz.
De acordo com o produtor e consultor Gianfranco Perazzolo, que cultiva 15 hectares de maçã no município de São Francisco de Paula, na região de Caxias do Sul, no ano passado foram registradas entre 300 e 400 horas de frio. “Além disso, o clima foi desigual, com frio no início de junho, veranico em julho, e frio novamente em agosto, o que influenciou a fisiologia da planta, que brotou mal”, explica.
Perazzolo estima um aumento de mais de 150% na sua produção em 2026. “Sairemos de uma produtividade de 22 toneladas por hectare este ano, para cerca de 40 toneladas em 2026”, prevê. Para ele, a tendência é de que o clima se mantenha favorável à cultura pelo menos até novembro.
“Este é um ano de neutralidade climática, o que será bom para a maçã, no entanto, há tendência de uma La Niña fraca em setembro, o que deve provocar um regime de baixas chuvas no verão e precisamos de boas chuvas em dezembro e janeiro”, explica.
O clima frio resulta em frutos maiores, explica o presidente da ABPM. A próxima etapa, também importante para a obtenção de uma safra volumosa, será a polinização dos pomares, que deve ocorrer em setembro. Nesse período, o clima precisa ser seco e ensolarado, ou seja, diferente do registrado em 2024, quando houve excesso de chuvas.
Um pouco antes da colheita os pomares precisam ter amplitude térmica, ou seja, dias quentes com noites amenas, e de pouca chuva. Tais condições resultam em frutos de coloração mais vermelha e mais doces.
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A colheita da maçã nos estados do Sul do País, que respondem pela maior parte da produção brasileira, ocorre de meados de janeiro, começando com a variedade Gala, até o início de maio, finalizando com variedade Fuji, que são as variedades mais consumidas no País.
Atualmente a cadeia produtiva da maçã conta com cerca de 4 mil produtores, que cultivam em 35 mil hectares. Cerca de 20% da produção que não atinge o padrão estético exigido pelo consumidor é destinada à indústria para a produção de suco de maçã.
“Nos últimos dois anos, em virtude das quebras de safra, o produtor até chegou a receber um preço bom da indústria, mas normalmente a remuneração não chega a 30% do valor da fruta”, diz Schio, que estima para 2026 um ano mais promissor para o produtor de maçã.