quarta-feira, dezembro 31, 2025

Mercado de fertilizantes prevê desafios em 2026 com possível restrição chinesa

Mercado de fertilizantes prevê desafios em 2026 com possível restrição chinesa

Origem de 24% de todos os fertilizantes importados pelo Brasil, país asiático avalia medida para conter preços locais

O mercado de fertilizantes, que vai iniciar 2026 atento a questões geopolíticas como o conflito entre Rússia e Ucrânia e as tarifas dos Estados Unidos, tem agora mais uma preocupação: a China.

O país asiático ganhou relevância para o Brasil após ultrapassar a Rússia e se tornar o principal exportador de fertilizantes para o mercado brasileiro entre janeiro e outubro de 2025, segundo boletim da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). A alta se deve, sobretudo, à ampla produção chinesa de fertilizantes menos concentrados, que foram mais usados na última safra brasileira. A China já fornece 24% de todos os fertilizantes importados pelo Brasil.


Porém, o país asiático sinalizou recentemente que pode suspender até agosto de 2026 suas exportações de fosfatados para conter preços locais. Hoje, 28% dos fosfatados importados pelo Brasil vêm da China. Entre os produtos que podem ser afetados estão o superfosfato simples (SSP), o superfosfato triplo (TSP) e os fertilizantes NP (nitrogênio e fósforo). “Se isso efetivamente vier a acontecer, vai ser muito prejudicial e pressionará os preços”, afirma Renato Françoso, analista de gestão de riscos de preços de fertilizantes da StoneX.

“O Brasil teria que buscar outras fontes de fosfatados tradicionais [para compensar a ausência chinesa], como Rússia, Marrocos. E aí, potencialmente, com um preço muito mais elevado. Se a gente não tem a disponibilidade de fosfato da China, então a tendência é de firmeza”, avalia Renata Cardarelli, especialista em fertilizante da consultoria Argus.

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A China também tem papel relevante no mercado de potássio e, em novembro, fechou um contrato de fornecimento do insumo com uma empresa russa para 2026. O país antecipou-se ao período tradicional de negociações, entre maio e junho, o que acendeu um alerta no mercado. Para analistas, a China deve ser o principal fator para a formação de preços dos fertilizantes potássicos.

Questões comerciais

Outra preocupação para o novo ano, segundo especialistas, são as políticas comerciais dos Estados Unidos, que já impactaram o setor em 2025. Declarações recentes do presidente Donald Trump sobre uma possível imposição de tarifas a produtos canadenses reacenderam preocupações, já que 90% do cloreto de potássio (KCl) importado pelos EUA saem do Canadá.

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Uma eventual tarifa e restrição às importações poderia gerar gargalos logísticos no Canadá, uma vez que os portos canadenses que destinam o produto ao exterior não têm capacidade para absorver volumes que normalmente seguem aos EUA por ferrovias.

Essa restrição ainda pressionaria os preços nos EUA e teria reflexos nas cotações internacionais. Mas há incertezas quanto à adoção das tarifas, já que empresas americanas, como a Mosaic, operam no Canadá, e o KCl pode ficar fora das medidas.

Cardarelli, da Argus, pondera que episódios recentes de tarifas não mudaram o mercado brasileiro de fertilizantes. Isso porque sanções aplicadas por EUA e Europa sobre produtos de certas origens, como da Rússia, redirecionaram a oferta a outros mercados. Com isso, o Brasil tende até a se beneficiar com a maior disponibilidade desses fertilizantes, a depender da origem atingida pelas restrições.

Guerras pelo mundo

O conflito no Mar Negro entre Rússia e Ucrânia também segue repercutindo, embora “a guerra já esteja incorporada nos preços atuais [dos fertilizantes]”, diz Françoso. Caso ocorram mudanças nas sanções da União Europeia à Rússia e o bloco amplie as compras de fertilizantes russos, o Brasil perderia o “prêmio de preço”, pagando valores mais alinhados ao mercado global, diz o analista da StoneX.

A situação impacta o Brasil, uma vez que mais de 20% dos fertilizantes adquiridos no país vêm da Rússia, ou cerca de 10 milhões de toneladas anuais de nitrogenados, fosfatados e potássicos.

O Oriente Médio, que fornece ureia, usada na produção de fertilizantes nitrogenados, é outro ponto de atenção, segundo analistas. A região concentra mais de 40% das exportações mundiais do produto, e o estreito de Ormuz, rota estratégica para o transporte, é sensível a eventuais conflitos

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