Uma das maiores na produção de tilápia do país, acaba de investir R$ 100 milhões para aumentar a capacidade
Congelar a tilápia que seria exportada para os EUA, reduzir o volume de ração oferecido aos peixes para desacelerar seu crescimento, readequar a estrutura e demitir funcionários. Essa é a estratégia da Brazilian Fish, uma das empresas do grupo Âmbar Amaral, diante do tarifaço do governo Donald Trump, que entra em vigor no dia 6 de agosto.
A sobretaxa vem no momento em que a empresa, uma das maiores na produção de tilápia do país, acaba de investir R$ 100 milhões para aumentar a capacidade de seus dois frigoríficos na região de Santa Fé do Sul (SP), disse Ramon Amaral, CEO da Brazilian Fish. A ampliação da capacidade, de 60 toneladas por dia para 100 toneladas, visa justamente a exportação de filés aos EUA.
O investimento contempla também aumento de produção de alevinos, fábrica de ração e aportes no programa de melhoramento genético da empresa. Desde o anúncio de Trump, em 9 de julho, a Brazilian já demitiu 50 dos seus 1.450 funcionários, todos na fábrica de ração para pescados.
A empresa exportava desde abril de 2024 uma média de 70 toneladas de filé de tilápia fresco por mês, via aérea, para Miami, e eventualmente enviava contêineres de filé congelado. Os embarques aéreos quatro vezes por semana serão mantidos até o prazo limite, segundo Amaral.
Os EUA são o destino de 95% das exportações da empresa, que também embarca pele e escama de peixe a Japão e Taiwan. As exportações representam de 18% a 20% da receita de R$ 200 milhões da companhia, que esperava ampliar as exportações em mais de 40%.
“A concorrência no mercado interno é muito grande e não adianta aumentar a oferta com o produto que iria para exportação porque o brasileiro não vai aumentar o consumo. Vamos aproveitar que no dia 17 de agosto fica pronta nossa expansão e vamos aumentar a capacidade de estocagem para 600 toneladas de produto pronto”, afirmou o CEO da Brazilian Fish.
O plano da empresa é manter os filés congelados por um ou dois anos enquanto a situação com os EUA não se define ou até conseguir abrir novos mercados, o que é um processo de médio prazo.
Outros mercados
A Brazilian Fish já está prospectando os mercados da Argentina, Paraguai e de alguns países da África. Segundo Amaral, os importadores americanos já avisaram que não conseguem absorver o custo de 50% da tarifa e que vão comprar de outros países como Colômbia, Equador e Costa Rica.
“O Brasil se tornou exportador de tilápia para os Estados Unidos com mais intensidade no ano passado graças a problemas sanitários nesses países que eram os fornecedores e também devido ao câmbio, que nos favoreceu. Agora, esses países já estão retomando os embarques e, neste primeiro momento, devem conseguir atender o mercado americano, embora a qualidade da tilápia brasileira seja superior”, afirmou.
Além da sobretaxa dos EUA, outra ameaça para o segmento, na visão do CEO, é a importação de tilápia do Vietnã, que foi moeda de troca na negociação do Brasil com o país asiático para a abertura daquele mercado para a carne bovina brasileira em abril.
“Ainda não chegou nenhum contêiner no Brasil, não sabemos se já estão em trânsito no mar, mas, se isso ocorrer, podemos ter a extinção da produção de tilápia no Brasil porque o peixe do Vietnã deve chegar com valor 30% abaixo do nosso custo de produção”, afirmou o CEO da Brazilian Fish.
Essa é justamente a preocupação da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), que já manifestou sua ferrenha oposição ao acordo porque acredita que isso significaria o fim da atividade no Brasil.
“Procuramos o Ministério da Agricultura exatamente para mostrar a fragilidade desse processo porque as questões sanitárias e principalmente os protocolos de processamento da indústria vietnamita são totalmente distintos dos exigidos aqui no Brasil. Ou seja, o produtor brasileiro fica em total desvantagem, não é um comércio justo”, disse Francisco Medeiros, presidente da Peixe BR.
Segundo ele, abrir a importação para um produto que está com uma safra alta neste ano, baixo preço para o consumidor e preço inferior ao de 2024 para o produtor, associado a essa questão da tarifa dos Estados Unidos, leva a piscicultura a uma situação extremamente delicada.
“No caso da tarifa americana, é uma negociação bilateral do governo brasileiro com o governo americano. Mas na questão do filé de tilápia do Vietnã, o governo brasileiro pode tomar uma decisão. Por isso, pedimos que suspenda imediatamente a autorização de importação para manter empregos e principalmente manter ativos os mais de 98% de pequenos produtores que compõem a base da produção de peixes de cultivo no Brasil.”