segunda-feira, novembro 10, 2025

Por que a banana de Santa Catarina é a mais doce do Brasil?

Por que a banana de Santa Catarina é a mais doce do Brasil?

Líder nacional na produção de carne suína e cebola e segundo colocado em outras cadeias do agronegócio, como arroz, carne de frango, maçã, palmito, pêra e pinhão, o Estado de Santa Catarina também se destaca quando o assunto é banana.

A fruta catarinense, no entanto, não se sobressai apenas pelo volume de colheita – 725.610 mil toneladas, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, mas por um detalhe observado no paladar: a doçura.


Em 2018, a região que engloba os municípios de Corupá, Jaraguá do Sul, São Bento do Sul e Schroeder, no Norte, recebeu do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) o selo de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Denominação de Origem (DO) pela produção da banana-nanica, considerada a mais doce do Brasil.

O reconhecimento da “nanicão de Corupá”, como é chamada popularmente, oficializou o que produtores locais sabem há mais de um século, desde que a variedade do subgrupo Cavendish passou a ser cultivada por imigrantes alemães: a combinação de clima ameno, solo fértil e relevo montanhoso influencia diretamente na concentração de amido.

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Mas como isso acontece? De acordo com Eliane Müller, diretora da Associação dos Bananicultores de Corupá (Asbanco), as condições climáticas fazem com que o tempo entre o plantio e a colheita seja maior se comparado a outras regiões brasileiras. Como consequência, o carboidrato (amido) se transforma em açúcar durante o processo de amadurecimento.

“A banana é uma fruta tropical e precisa de 28ºC para produzir com excelência. Então, quanto mais próximo da Linha do Equador, melhor a produção. Mas nós aqui estamos no clima subtropical, indo de -5ºC, quando aconteceu a geada negra, a 42ºC. Com a chegada do inverno, a bananeira diminui o metabolismo, segura a fruta entre três a quatro meses a mais e aumenta a produção de açúcares naturais. É por isso que temos a banana mais doce do Brasil e, provavelmente, do mundo”, explica à Globo Rural.

Além de atestar a banana cultivada em Santa Catarina como a mais doce, o INPI destacou outras duas curiosidades sobre a fruta: possui maior teor de potássio, cálcio e manganês e é menos suscetível a doenças.

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“A cultura da banana chega a receber até 10 vezes menos aplicações de produtos químicos do que em outras regiões produtoras. Seu diferencial é reconhecido, principalmente, pelo sabor, atribuído às condições locais que fazem com que o tempo necessário para a produção de um cacho seja maior, resultando em bananas mais aromáticas e saborosas”, diz o documento de registro do órgão nacional ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Para comprovar que a banana-nanica era realmente a mais doce, diversos estudos foram realizados durante quatro anos.

O primeiro envolveu a relação histórica da fruta com a região catarinense e teve o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) como parceiro. Na ocasião, campanhas entre comerciantes, promoções e um congresso internacional foram realizados para custear a pesquisa de R$ 80 mil.

“Tudo começou em 2006, quando recebemos a visita de um pesquisador da Costa Rica chamado Moisés Sotto (in memoriam), da Universidade Earth. Ele disse que estávamos apresentando a banana de uma forma errada, que tínhamos a mais doce do mundo e que já tinha resultados disso”.

O passo seguinte foi apresentar ao INPI o estudo sobre a influência direta do clima no sabor e na doçura da banana. A etapa contou com a parceria da Epagri/Ciram e do IBGE.

“Inicialmente, a cultura da banana na região iniciou em Corupá, cidade com a maior produção de Santa Catarina, mas descobrimos que outras três também tinham aptidão: Jaraguá do Sul, São Bento do Sul e Schroeder. Isso quer dizer que não é a muda da banana que é diferente. Não adianta eu mandar para ninguém uma muda da planta, é o local, o terroir. Banana é uma fruta de terreno plano e clima tropical, mas nós estamos em montanhas e no clima subtropical”, diz Eliane.

A etapa final do processo de reconhecimento foi dividida em duas partes:

  • O Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estudaram a composição mineral da fruta. Em outro momento, a avaliação físico-química que comparou a banana “nanicão de Corupá” com variedades de outros Estados e também do Equador, Costa Rica e Havaí comprovou que o teor de açúcar era 25% superior às demais.
  • Câmeras fotográficas foram colocadas em bananais para monitorar o desenvolvimento das bananeiras durante 14 meses.

Ciclo da banana

Local Tempo aproximado (plantio até a colheita)
Equador 7 meses
Ceará e Rio Grande do Norte 8 meses
São Paulo Entre 9 a 10 meses
Santa Catarina Entre 11 a 14 meses

“Para mim, que sou filha de produtores de banana, o selo IG é o maior reconhecimento a nível mundial. Ele diz respeito a produtos únicos no mundo, como é a nossa banana. Ela é tão doce que se usar para fazer geleia, é 40% a menos de açúcar industrial na preparação”, finaliza.

O aumento no volume colhido, que é de 249 mil toneladas atualmente, e também as vendas da banana-nanica foram apenas dois dos inúmeros resultados positivos alcançados pela região após a aprovação do pedido de Indicação Geográfica.

A conquista contribuiu ainda com o empoderamento e o resgate do orgulho em produzir banana pelos agricultores, respeito da população urbana à comunidade produtora, introdução da banana como instrumento de turismo e em eventos esportivos e a criação de subprodutos (balas, geleias, pães, doces, ketchup, farinha, biomassa, cachaça, artesanato, etc).

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