Projeções são de uma colheita com produtividade alta e boa qualidade dos grãos
A nova safra de trigo está gerando otimismo entre os produtores do Sul do Brasil. Apesar de preocupações climáticas durante o desenvolvimento das lavouras, as projeções são de uma colheita com produtividade alta e boa qualidade dos grãos.
Fauro Rocha, de Santa Bárbara do Sul (RS), é um dos produtores rurais que tem boas expectativas com evolução da safra de trigo deste ano, após enfrentar um começo marcado por chuvas intensas e pouca incidência de sol. Segundo ele, as condições climáticas melhoraram nas últimas semanas, favorecendo o desenvolvimento das culturas de inverno.
“No começo foi bem ruim devido às chuvas [em excesso], além de um período com pouco sol, então todas as culturas vinham devagar”, relatou. Com a chegada do frio e a ocorrência de geadas que, segundo Rocha, chegaram a uma sensação térmica de -4°C, o cenário mudou. De acordo com ele, como a lavoura ainda estava em estágio inicial de desenvolvimento, as geadas não causaram danos e chegaram a impulsionar o crescimento das plantas. No entanto, a canola, também cultivada na propriedade, sofreu perdas com a geada.
Atualmente, o trigo está na fase de alongamento em sua propriedade, e a expectativa é que a lavoura comece a soltar o cacho nas próximas semanas. A colheita está prevista para iniciar em torno de 20 de outubro. A previsão de clima mais seco para o mês, com chuvas abaixo da média, pode favorecer o andamento dos trabalhos no campo. A expectativa de produtividade varia entre 50 e 70 sacas por hectare.
Nos últimos anos, o produtor vem reavaliando o espaço dedicado ao trigo em sua propriedade. Segundo ele, a rentabilidade da cultura tem sido limitada. “De dez anos, em 20% a 30% tive lucro. O resto dos anos foi empate ou prejuízo”, afirmou. Para Rocha, o atual preço do trigo está no limite para viabilizar o cultivo. “Trabalhar num patamar menor, com os custos, seria inviável”, avaliou.
A canola, que antes ocupava menos de 50% da área do trigo na propriedade de Rocha, hoje já chega a 110 hectares, enquanto o trigo está presente em 180 hectares. Parte da área que antes era destinada ao cereal também foi convertida em pastagens para pecuária.
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No Rio Grande do Sul, a área cultivada com trigo em 2025 é estimada em 1,2 milhão de hectares, com uma produtividade projetada de 2.997 quilos por hectare, conforme dados da Emater/RS. A entidade destaca que, apesar das chuvas irregulares, o cultivo segue em bom estado no Estado.
De acordo com o boletim técnico divulgado nesta quinta-feira (28/8), 82% das lavouras estão na fase vegetativa, 15% em floração e 3% em enchimento de grãos. O vigor das plantas e sua sanidade são avaliados como satisfatórios, o que mantém as expectativas positivas para a produtividade.
As chuvas mais intensas atingiram o sul do Estado, causando danos pontuais. Nas regiões Noroeste e Planalto, que concentram a maior parte da área plantada, as precipitações foram mais moderadas e não afetaram o desenvolvimento das lavouras.
A umidade excessiva do solo causou a interrupção temporária das pulverizações, uma prática essencial para evitar a compactação do solo e danos às plantas. Os produtores seguem monitorando a presença de pragas e doenças e devem retomar as aplicações de fungicidas assim que as condições de acesso às lavouras melhorarem. Contudo, a atenção continua voltada para a possível ocorrência de doenças fúngicas, principalmente nas áreas com maior umidade e nas lavouras em floração.
Paraná
No Paraná, a produção de trigo deve alcançar 2,6 milhões de toneladas, mantendo a estimativa do mês anterior, mesmo com a redução da área plantada. No ano passado, o Estado colheu 2,3 milhões de toneladas. A expectativa inicial era de 833 mil hectares plantados, mas, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), a área ficou em torno de 820 mil hectares.
A colheita já começou, mas ainda de forma lenta, com cerca de 2% da área colhida, concentrada em regiões mais ao norte do Estado, onde as lavouras foram plantadas mais cedo devido à altitude. Essas áreas, no entanto, foram as mais atingidas pelas geadas do início da safra. A colheita deve ganhar ritmo a partir de meados de setembro e seguir até meados de outubro.
Carlos Hugo Godinho, coordenador da Divisão de Conjuntura Agropecuária do Deral, alerta para os riscos da falta de chuvas nos próximos dias. Segundo ele, a ausência de precipitações e a possibilidade de calor extremo podem impactar a produtividade, como ocorreu na safra anterior. “No ano passado, não havia água nem para o enchimento de grãos”, lembra.
Apesar das preocupações climáticas, a qualidade dos grãos colhidos até o momento tem sido considerada boa. Com isso, produtores devem conseguir preços dentro da normalidade. No ano passado, houve descontos devido ao tamanho reduzido dos grãos.
Godinho observa que o cenário atual é de estabilidade nos preços, que não recuaram no início da colheita, um comportamento comum em outras safras. Segundo ele, produtores que optaram pelo trigo como estratégia para cobrir os custos variáveis e estão obtendo boa produtividade têm alcançado uma rentabilidade mínima, o que pode viabilizar o plantio na próxima temporada.
Ainda assim, segundo Godinho, “trigo não costuma empolgar muito o produtor”, por uma rentabilidade limitada que inclusive reduziu a área cultivada. Mas, diante do andamento da safra, “se ele [o produtor] não estava muito animado, ele acabou não se decepcionando com o resultado final”.