Como informou ontem o jornalista Assis Moreira em matéria para o jornal Valor Econômico, menos de três dias depois de sua saída da União Europeia o Reino Unido já procurou o Brasil e outros parceiros para discutir o futuro de suas relações comerciais (clique aqui para acessar texto completo de Assis Moreira).
Naturalmente, os britânicos continuarão importando carne de frango, provavelmente mantendo sua relação com o Brasil nesse segmento. Mas uma das preocupações para quem – como o Brasil – exporta o produto para o Reino Unido recai sobre a possibilidade de abertura do mercado ao frango norte-americano.
Não custa lembrar, desde o final do século passado a União Europeia (e, portanto, também o Reino Unido) mantém o frango abatido dos EUA sob embargo, usando para isso uma justificativa de ordem sanitária: o produto passa por uma higienização final com cloro.
Mas com o Brexit e a (pelo menos aparente) amizade entre Boris Johnson e Donald Trump a perspectiva de uma abertura ao frango de Tio Sam torna-se mais realista. Ou não?
À primeira vista não, pois o Primeiro Ministro britânico já se manifestou contra essa possibilidade. Só que utilizando um argumento no mínimo estranho, pois confunde questão sanitária (ave abatida) com bem-estar animal (ave viva). Suas palavras, reproduzidas entre aspas conforme a imprensa europeia:
“Entendo perfeitamente as preocupações [da União Europeia] com o frango clorado, porque não é uma questão de higiene, mas de bem-estar animal. E o que faremos é usar nossas negociações e convencer nossos parceiros: se eles quiserem negociar livremente conosco, obviamente deverão aceitar nossa abordagem quanto ao bem-estar animal”.
Enquanto essa questão não é esclarecida, vejamos qual é a participação do Reino Unido nas importações brasileiras de carne de frango. Como mostra a tabela abaixo, nos últimos nove anos (2011 a 2019) elas giraram entre 55,8 e 89 mil toneladas anuais, a média desse período correspondendo a embarques mensais de, aproximadamente, 6 mil toneladas.
Com tal volume, os britânicos têm-se colocado entre a 13ª e 19ª posição no ranking dos importadores brasileiros de carne de frango. E sua participação no total exportado pelo Brasil não tem chegado, na média, aos 2%.
De toda forma é oportuno mencionar que as importações do Reino Unido estão concentradas nos industrializados e na carne de frango salgada, itens com maior valor agregado que a carne de frango in natura. Em decorrência, os britânicos têm se situado, no tocante à receita, entre os 10 principais importadores da carne de frango brasileira.
Em 2019, por exemplo, 93% do volume importado pelo Reino Unido (58,2 mil toneladas) foram de carne salgada e de industrializados. Isso gerou receita cambial de US$216,8 milhões, valor que fez os britânicos ascenderem da 15ª (volume) para a oitava posição (receita).