Os preços da soja seguem recuando na Bolsa de Chicago e ainda fragilizados pela ausência da demanda chinesa no mercado norte-americano, desde que a nova fase da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo começou. A informação do adido do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em Brasília de que China e Brasil estão trabalhando em um acordo sobre a comercialização da soja deixa este cenário ainda mais evidente.
A grande oferta brasileira de soja deve desafiar ainda mais diretamente as exportações norte-americanas, segundo o relatório do adido. A iniciativa, conhecida como “Soy China”, é baseada em conceitos e diretrizes de sustentabilidade, com a oleaginosa sendo cultivada sob padrões acordados entre os dois países.
O Brasil, que já é, atualmente, a maior e principal origem fornecedora de soja para a China, pode ganhar ainda mais expressão.
“Se o Brasil produzir uma variedade de soja especificamente adaptada aos padrões chineses, essa participação provavelmente aumentará, levando a uma redução nas importações de soja pela RPC de outros grandes fornecedores, incluindo os Estados Unidos”, traz o relatório do adido. “Essa tendência deverá se intensificar com a implementação do projeto Soy China e em meio aos acontecimentos recentes, como aumento de tarifas e tensões comerciais contínuas”.
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Na semana passada, de um total de 26 navios de soja negociados CFR China, a maior parte foi do Brasil e da Argentina – que respondeu por algo como 8 a 10 embarcações – e no mesmo período, nenhum dos EUA.
“No ano passado, um total de 14 barcos foi reportado dos EUA no mês de junho, e nenhum ainda este ano. A Argentina registrou 4,8 milhões de toneladas de soja na exportação nesta temporada e continua bem agressiva na competitividade, tendo registra um desconto de 40-45 centavos por bushel”, explica o analista do complexo soja e diretor da Agrinvest Commodities, Eduardo Vanin.
O Brasil também segue muito competitivo e os lineups sinalizam que este deverá ser mais um ano de exportações recordes. “Enquanto as tarifas de 10% sobre a soja americana continuam, a China não tem outra opção a não ser continuar comprando do Brasil”, complementa Vanin.
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Gráfico: Eduardo Vanin/Agrinvest Commodities
Além disso, o analista afirma ainda que a China vem cobrindo sua necessidade de soja em um ritmo acelerado, justificado forte farmer selling argentino – que conta também com os produtores aproveitando as retenciones ainda reduzidas até o final deste mês – e também pela grande oferta brasileira.
“A China está agora quase 80% coberta para julho, e perto de 25% para setembro, neste último caso precisando ainda de seis milhões de toneladas até o final do mês. Como resultado, as entregas e o esmagamento de soja estão muito fortes”, explica.
Gráfico: Eduardo Vanin/Agrinvest Commodities
O analista afirma ainda que “o fluxo de soja para China está bem maior que no ano passado. Alguns analistas falam que está menor, mas isso com base nos dados de recebimento. Olhar para o recebimento não reflete a realidade. Observando o fluxo na Argentina (na imagem abaixo), vemos que está bem maior esse ano. A Argentina registrou na exportação quase cinco milhões de toneladas nessa temporada”.
Imagem: Agrinvest Commodities
Assim, somado a mais fatores que neste momento pesam sobre o mercado da soja na Bolsa de Chicago, os futuros da oleaginosa têm uma nova sessão de perdas nesta quarta-feira, com o mercado intensificando os recuos ao longo do dia, depois de começa-lo operando com estabilidade.
Assim, por volta de 12h30 (horário de Brasília), as baixas variavam entre 9 e 10,75 pontos nos principais vencimentos, levando o julho a US$ 10,36 e o setembro a US$ 10,26 por bushel. O mercado sente a pressão não só da ausência da demanda chinesa, mas também as boas condições climáticas permitindo o adequado desenvolvimento da safra 2025/26 dos Estados Unidos.